Sentar-se à janela do avião

Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.

Tudo era novidade e fantasia. Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido. As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque. Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara.

Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista..Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida. A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.

Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece. Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos"

texto de Alexandre Garcia

A harmonia de todos os decretos de Deus

Se Deus já quis enviar chuva, então porque orar por isso? Ou, se Deus já escolheu salvar você, então porque lutar tão duramente contra a tentação?

Edwards dá sua resposta para perguntas como estas na Coletânea #29 (reformatada para facilitar a leitura):



Deus decreta todas as coisas harmoniosamente e em ordem excelente; um decreto se harmoniza com outro, e a relação entre todos os decretos faz a mais excelente ordem. Assim, Deus decreta a chuva no deserto por decretar as mais ardentes orações de seu povo; ou então, ele decreta as orações de seu povo por decretar a chuva.


Eu admito: dizer Deus decreta algo “porque,” é uma maneira imprópria de falar, mas não mais imprópria do que todas as nossas formas de falar a respeito de Deus. Deus decreta o último evento por causa do primeiro, não mais do que ele decreta o primeiro por causa do último.


Mas é isto o que nós queremos dizer: quando Deus decreta dar as bênçãos de chuva, ele decreta as orações de seu povo; e quando ele decreta as orações de seu povo, ele muito comumente decreta a chuva; e, através disto, há uma harmonia entre estes dois decretos, da chuva e da oração do povo de Deus.

Assim também,


• quando ele decreta diligência e esforço, ele decreta riqueza e prosperidade;
• quando ele decreta prudência, ele frequentemente decreta sucesso;
• quando ele decreta empenho, ele frequentemente decreta a obtenção do reino dos céus;

• quando ele decreta a pregação do evangelho, então ele decreta o trazer de almas para Cristo;

• quando ele decreta boas faculdades naturais, diligência e boas vantagens, então ele decreta aprendizado;

• quando ele decreta verão, então ele decreta o crescimento das plantas.

Assim, quando ele decreta conformidade com seu Filho, ele decreta chamado; e quando ele decreta chamado, ele decreta justificação; e quando ele decreta justificação, ele decreta glória eterna.


Assim, todos os decretos de Deus são harmoniosos; e isso é tudo o que pode ser dito a favor ou contra os decretos absolutos ou condicionais. Mas digo uma coisa: é impróprio fazer de um decreto a condição de outro, muito mais do que fazer do outro a condição do primeiro; mas há harmonia entre ambos.

Por Jonathan Edwards. Original: edwards.yale.edu

Tradução: voltemosaoevangelho.com

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

Morrer é Grande Lucro: Cinco Razões para Isto

por John Piper

Para toda pessoa melancólica, que pensa de maneira patológica sobre a morte, existem provavelmente milhões de pessoas que não pensam muito a respeito dela. Quando Moisés contemplou a brevidade da vida, ele orou: “Ensina-nos a contar os nossos dias” (Sl 90.12). É bom pensarmos na morte. Devemos viver bem para que morramos bem. Parte do viver bem inclui o aprendermos por que a morte é lucro.

Nesta meditação, oferecemos cinco razões, mas elas representam apenas um pouco das glórias. Por exemplo, elas não contemplam a grande glória da ressurreição; mas, embora fiquem aquém daquele grande Dia, existe o suficiente para nos deixar sem fôlego e dizer, como Paulo:

Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.


1. No momento da morte, os crentes serão aperfeiçoados.

Não haverá mais pecado em nós. Acabaremos com a luta interior e com os desapontamentos de ofender o Senhor, que nos amou e a Si mesmo se entregou por nós.

“Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.22-23).


2. No momento da morte, seremos libertos do sofrimento deste mundo.

Ainda não desfrutaremos da alegria da ressurreição, mas teremos o gozo de ser livres do sofrimento. Jesus contou a história de Lázaro e o rico para mostrar a grande reversão que ocorre na morte: “Então, [o rico] clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos” (Lc 16.24-25).


3. No momento da morte, ganharemos profundo descanso em nossa alma.

Haverá uma serenidade sob o olhar e o cuidado de Deus que ultrapassa qualquer coisa que já conhecemos neste mundo, no mais brando entardecer de verão, ao lado do mais pacífico lago, em nossos momentos mais felizes.

“Vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo” (Ap 6.9-11).


4. No momento da morte, experimentaremos um profundo senso de estar em casa.

Toda a raça humana, mesmo sem perceber, sente muita falta de Deus. Quando formos ao lar, para viver com Cristo, haverá um contentamento que excede qualquer senso de segurança e paz que conhecemos. “Estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Co 5.8).


5. No momento da morte, estaremos com Cristo.

Cristo é a pessoa mais maravilhosa que qualquer outra na terra. Ele é mais sábio, mais forte e mais amável do que qualquer pessoa com quem nos alegramos em passar tempo. Cristo é sempre interessante. Ele sabe exatamente o que fazer e o que dizer, em cada momento, para tornar os seus amigos tão felizes quanto puderem ser. Cristo transborda amor e infinita percepção a respeito de como usar seu amor para fazer que os seus sintam-se amados. Por isso, Paulo disse: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.21-23).


Com estas cinco razões para considerarmos a morte como lucro, vimos apenas a superfície da maravilha. Existe mais — muito mais.



Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper.

Copyright: © Editora FIEL

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright.

Memorando para Jesus

Memorando:
Para: JESUS (Filho de Jose e Maria)

Oficina de Carpintaria

25922 - Nazare - Judeia

Prezado Rabi,

Obrigado por enviar-nos o "Curriculum Vitae" dos doze homens que escolheu para ocupar posições destaque e gerenciamento em sua nova empreitada.

Todos já foram submetidos aos nossos testes. Marcamos, para cada um deles, entrevistas pessoais com o nosso psicólogo e com o encarregado dos testes vocacionais, cujos resultados registramos em nossos computadores para eventuais consultas futuras. Anexo, encaminhamos os perfis de nossos testes.

Recomendamos minucioso exame individual.

Como parte de nossos serviços e para sua melhor orientação, tecemos alguns comentários gerais, que resultam dos pareceres de nosso pessoal, da mesma forma que um auditor faz declarações generalizadas sobre suas conclusões:

Nossa equipe é de opinião que falta a maioria de seus escolhidos, experiência, escolaridade e aptidão vocacional para o tipo de empreendimento a que o senhor se propõe.

Acha também que não possuem a desejável noção de equipe, para a execução da tarefa.

Todos deixam a desejar no quesito "cuidados e aparência pessoal".

Recomendamos que continue a procurar pessoas com experiência em gerenciamento e que apresentem capacidade comprovada.

Simão Pedro é emocionalmente instável, sujeito a explosões intempestivas.

André não possui absolutamente nenhuma capacidade de liderança.

Os dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, colocam o interesse pessoal acima da lealdade à empresa.

João é uma pessoa excessivamente humilde, dificilmente conseguirá demonstrar autoridade sobre outras pessoas.

Sentimos informar que Mateus faz parte da lista negra do Departamento de Negócios de Jerusalém.

Tiago, filho de Alfeu, bem como Tadeu, possuem, definitivamente, inclinações radicais. Ambos atingiram uma elevada marca na escala maníaco - depressiva.

Tomé demonstra uma atitude de dúvida que poderia abalar o estado de espírito do grupo.

Um dos candidatos, porém, demonstra um grande potencial. É um homem capacitado e cheio de recursos. Tem facilidade de comunicação, mente aguçada para negócios, bom trânsito entre pessoas de alta posição. É altamente motivado, ambicioso e responsável. Recomendamos Judas Iscariotes como seu controlador e braço direito.

Desejamos-lhe sucesso em seu novo empreendimento.

Atenciosamente.

Consultoria Geral Jordão

Departamento de Recursos Humanos

26544 Jerusalém - Palestina

Meus amigos,

A cada momento chega um memorando semelhante nas mãos de Jesus. E sabem quem é o candidato? VOCÊ !

Já pensou se Jesus se importasse com o que acham ou pensam de nós?

Abraços,

Medo do diabo


por Zé Luís

Usando a citação de Gabriel Garcia Marques, quando se quer escrever, quando somos jovens, não temos conteúdo próprio suficiente para contar uma história. Quando estamos velhos, não lembramos mais do conteúdo que acumulamos pela vida.

Pensava eu que o problema de memória era apenas meu, mas é problema, humano cada vez mais intenso entre os meus. É como deixássemos de existir a cada instante, e um enorme apagador viesse do passado, nos deixando como existisse só o agora. Falta de memória pode intensificar a falta de sentido da vida e deixar incompreensível o sentimento de ingratidão que nos inunda.

Tenho a sensação de citar sempre as mesmas coisas às mesmas pessoas e estar fazendo isso pela vida que passa e não volta, e alertar a todos sobre a desnecessidade - e a incoerência - do medo frequente na vida dos que professam serem genuinamente Dele, sempre recebendo um sorriso de quem ouve, mas não se interessa.

O medo cristão do diabo e sua vontade de digladiar contra ele é algo insensatamente comum naqueles que se propõem a combater o Bom Combate. O que o inferno pode é soprar, mas só se o Mestre dizer: “Sopre...”. O diabo mata? Só se o Criador disser: “pode fazer”.

Tateamos angustiados buscando a trilha segura contra o mal, caçando quem nos revele onde pode estar o maldito capeta, esperando que nos mostrem se ele infiltrou-se ali ou acolá, quando o Caminho se responsabilizou por nos proteger Nele. Lesse o legado que deixou, não haveriam tantos profissionais do medo.

Quando o Apocalipse cita que o diabo é liberado após o milênio, juntando rapidamente um exército, quem o liberta é um anjo, e o faz como quem tira um coelho de uma pequenina cartola, como quem tira um periquito de uma gaiola, um tição apagado que fumega o calor dos que já não queimam.

Creio que o pavor que cristãos cultuam pelo diabo está relacionado a falta de Graça: se tivermos que debater no juízo com esse ser maléfico, justificando nossos atos contra a acusação dele, não haveria esperança: das iscas propostas, mordemos quase todas. O problema é que muitas destas acusações não são pecados realmente, mas aceitamos que eles sejam como por usarmos em nossa vida, com o pretexto de manter a ordem em nossas comunidades. A ordem do medo.

Nessa miscelânea de coisas que são e que não são, nesta tempestade de entendimentos contrários, nessa absurda luta para se manter no topo da torre babilônica que detém a informação confiável nos perdemos.

A falta de memória nos remove o episódio onde o ladrão morre salvo, sem teologia, sem ter conhecido um culto, sem saber sobre os benefícios da vida Cristã e os 10 passos que o levariam a isso. O ladrão morre salvo pela vontade do Mestre moribundo.

Teu medo não te aproxima de Deus, valoriza o diabo, desvaloriza a gratuidade da Graça e zomba do poder de Deus em salvar e cuidar dos seus.

É crer sem amar


Antônio Carlos Costa


Há pregadores que quando estão no púlpito, pregam passando a forte impressão de que não crêem no que ensinam. Há pessoas que quando oram, aparentam não crer nAquele para quem fazem sua oração. É fato que nosso tom de voz, expressão facial, gestos e comportamento em geral, costumam acompanhar o nosso estado de alma.

Há aqueles que dizem que tudo isso é subjetivo; que a expressão da emoção varia, pois nem todos têm o mesmo temperamento ou foram criados na mesma cultura. Daí a necessidade de evitarmos toda estereotipagem e julgamento precipitado. Não tiro uma vírgula desse tipo de precaução.

Chama-me a atenção, contudo, o fato de que as mesmas pessoas que demonstram tamanha preocupação com o excesso de emoção na vida espiritual, não demonstram a mesma fleuma e suposto equilíbrio emocional, por exemplo, quando recebem a notícia de que o filho que estava para morrer, recobrou a saúde.

Quando temos uma real e profunda percepção da realidade espiritual, certos resultados se seguem na nossa vida emocional, que costumam deixar a forte impressão de que algo de especial aconteceu conosco. É da natureza humana, sendo assim, expressar regozijo, quando um bem de valor inestimável foi recuperado.

Nas Escrituras vemos expressões constantes de vívidas marcas no campo das afeições das experiência espirituais vividas pelos servos de Deus. José chora ao ver novamente, depois de muitos anos, seus irmãos; Davi dança de alegria; Pedro sai chorando noite adentro em razão do forte pesar pelo pecado cometido; Cristo, compadecido, toca no corpo do leproso; e Deus é comparado a um pai que corre para abraçar o filho que retornou vivo para casa, expressando uma nítida alegria.

A padronização da expressão emocional da experiência espiritual pode ser tirânica, falsa e farisaica, mas cristianismo sem conversão da emoção é crença na existência de Deus sem a visão da sua excelência. É crer sem amar.


Rev. Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana
da Barra
e presidente do Rio de Paz.



Se não arde, não ilumina!


Hermes C. Fernandes



Uma das figuras que mais me intrigam nas Escrituras é João Batista, o primo excêntrico de Jesus. Quanto mais leio sobre ele, mais me identifico com sua história. Dentre os testemunhos que Jesus dá acerca do último dos profetas da Antiga Aliança, chama-me a atenção aquele em que diz:“João era a lâmpada que ardia e iluminava, e vós escolhestes alegrar-vos por algum tempo com a sua luz” (João 5:35).

Repare num detalhe: Para iluminar, a lâmpada tem que arder!

Havia algo apaixonante em João, que atraía as pessoas, a ponto de deixarem o conforto de seus lares para ouvi-lo no deserto, um dos mais inóspitos ambientes da terra. As pessoas sentiam-se atraídas a ele como mosquitos atraídos pela luz.

Jesus disse que somos a luz do mundo. O problema é que queremos iluminar sem arder. Somos uma geração apática, sem fogo, sem paixão. Não me refiro àquela paixão incitada por melodias melosas, mas uma paixão consciente pela verdade e pela possibilidade de transformação do mundo.

Embora João jamais tenha realizado qualquer milagre, Jesus não hesitou considerá-lo o maior expoente dentre os profetas. Maior que o próprio Elias, que fez descer fogo do céu por diversas vezes. Maior que Moisés, o Legislador de Israel, que dentre muitos milagres, fez abrir o Mar Vermelho para que os hebreus escapassem do exército egípcio. Pra Jesus, João não foi apenas o maior dos profetas, mas o maior de todos os homens:

“Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista; contudo, o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt.11:11).

Com João, encerrava-se uma Era. Ele era como “o último dos Moicanos”. Cristo vinha anunciar a Era do Reino de Deus. E o menor dos cidadãos do Seu Reino, poderia ser considerado maior que João. Ora, somos os cidadãos do Reino de Deus. Por que deveríamos ser considerados maiores que João? Para respondermos a esta pergunta, teremos que compreender melhor a diferença entre as duas alianças, a do Monte Sinai e a do Monte Gólgota.

Paulo diz que Deus “nos fez capazes de ser ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Co.3:6). A letra em questão é uma alusão às tábuas da Lei, recebidas por Moisés no Monte Sinai.

João era ministro da Velha Aliança. Nós somos ministros da Nova Aliança. A Lei foi chamada de “ministério da morte, gravado com letras em pedras”. De fato, ela veio “em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente” (v.7). Preste atenção neste detalhe: a glória revelada no rosto de Moisés era desvanecente, isto é, fugaz, passageira, que estava destinada a diminuir gradativamente.

Era esta a glória do ministério dos profetas, inclusive de João.

O texto sagrado diz que Moisés, ao descer do Monte, teve que cobrir sua face por causa da glória que nele resplandecia. Muitos acreditam que tal medida foi necessária para que os filhos de Israel pudessem olhar pra ele. Porém Paulo nos revela a verdadeira razão:

“E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o fim daquilo que desvanecia” (v.13).

Moisés percebeu que à medida que descia do Monte, a glória diminuía. O que os filhos de Israel pensariam disso? Para encobrir-lhes tal realidade, o profeta preferiu usar um véu. Em contraste com essa glória desvanecente, a glória da Nova Aliança é permanente e definitiva (v.11). Por isso, não precisamos cobrir nossa face.

João compreendeu perfeitamente isso, quando disse acerca de Jesus: “Convém que Ele cresça, e eu diminua”. Uma glória se esvai pra que a outra venha em caráter definitivo. Porém, ambas devem produzir ardor em seus expoentes.

Para iluminarmos, isto é, para resplandecermos a glória de Deus em nossas vidas, nosso coração deve arder como ardia o coração dos discípulos que encontraram Jesus à caminho de Emaús.

Há, entretanto, uma diferença entre o arder da Antiga Aliança, e o arder da Aliança Definitiva.

No primeiro encontro que Moisés teve com Deus no deserto, ele avistou uma sarça que ardia, porém não se consumia (Êx.3:2). E foi justamente isso que o atraiu à sarça. Quando a glória se foi, a sarça se manteve intacta.

Da mesma maneira, a glória da Antiga Aliança mantinha intacta a natureza humana. Por isso, ela desvanecia. O ego humano não lhe servia de combustível. Já na Nova Aliança as coisas são bem diferentes. Nosso “eu” não pode ser poupado. Basta olhar para Paulo, que considerava que se “eu” estava crucificado com Cristo. Em 2 Coríntios 12:15, ele diz:

“Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.”

Portanto, a chama que deve arder em nós e nos consumir é o AMOR. E para iluminar os que estiverem à nossa volta, não poderemos nos poupar. Não há como nos mantermos intactos, enquanto a chama do Espírito arde em nós. Sua glória consome nosso orgulho, nossa prepotência, nossa vaidade, de maneira que já não vivemos mais, mas Cristo vive através de nós (Gl.2:20).

Somos ofuscados pela glória, de forma que quem fitar em nós, em vez de nos ver, verá a glória de Cristo em nós. Interessante notar que a glória resplandecente no rosto de Moisés foi escondida sob o tecido de um véu. Já a glória que resplandeceu no rosto de Jesus durante a Sua transfiguração, fez com que o tecido que cobria todo o Seu corpo fosse igualmente transfigurado (Mt.17:1-8).

Assim também, a glória colocada em nós deve tocar e “transfigurar” toda a realidade à nossa volta. Isso inclui a cultura, a educação, a ciência, e tudo mais.

Nada escapa do escopo dessa glória. Embora lá estivessem Elias e Moisés, dois dos maiores ícones da Antiga Aliança, quando os discípulos fitaram seus olhos, a ninguém mais viram, a não ser Jesus. Seus corações ardiam tanto, que Pedro chegou a sugerir que se construíssem ali três tabernáculos. Porém, não se pode circunscrever a glória em alguns metros quadrados, e nem tentar contê-la por um espaço de tempo. A glória da Nova Aliança não pode ser contida por tabernáculos, nem escondida sob véus. Seu destino é encher todo o Cosmos, a fim de transfigurá-lo.

Que esta chama continue ardendo em nós, e nos consumindo, conduzindo-nos de glória em glória, até a manifestação final, o Dia Perfeito.

"A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Pv.4:18).

Os contemporâneos de João escolheram alegrar-se por algum tempo com a sua luz (Jo. 5:35).Nós, porém, fomos escolhidos para nos alegrar eternamente com a Luz do Novo Dia, um dia que jamais terá fim.



O direito ao desemprego criador

... A partir daí tento mostrar à maioria que a diferença é que nossas casas são centros de consumo, enquanto as de nossas avós e bisavós eram centros de produção. Comida, roupas, energia, insumos, decoração, presentes e objetos de uso eram produzidos nas casas. Quase tudo que a família precisava estava ao alcance das mãos – de habilidosas mãos – que não só produziam, mas também consertavam, mantinham e adaptavam a novos usos quando algo se tornava definitivamente irrecuperável.

[...]

Veja bem: tudo que entra em casa gera embalagem e sai na forma de poluição. Nada fica, nada é aproveitado, tudo é jogado fora, como se “fora” existisse. Para tantos que falam de jogar algo fora, deve existir uma mágica no universo, uma vez que “fora” significaria uma espécie de buraco negro onde tudo sumiria, Emprego polui.quando de fato o que ocorre é que nosso “fora” significa que algo que não queremos deva ser lançado na cabeça de outra pessoa, de outro sistema ou de outra vizinhança. Transformamos o ciclo da vida em cadeia de geração de lixo. E nos prendemos nessas correntes intermináveis que acabam por nos envenenar corpos e mentes.

Para termos acesso a essa cadeia, buscamos dinheiro, e para obtê-lo nos submetemos a mais emprego. Nos coisificamos – reificamos segundo Marx – viramos peça de engrenagem e para manejar a situação buscamos ter mais e melhores empregos e com isso criamos muita poluição. Além de transformar a cadeia em algemas para a vida toda.

Para empregarmo-nos temos dois carros por família, ou usamos muito transporte de massa. Comemos comida pronta para ganhar tempo, inflamos as praças de alimentação de cada Shopping Center, onde produz-se em média dois contêineres por dia de restos de alimento que irão apodrecer em um aterro sanitário. A cada refeição geramos saquinhos plásticos, colheres plásticas, copos plásticos, facas plásticas e muito papel, energia e barulho que acompanham cada empregado, ou executivo, enquanto usufrui de sua ração diária. Nossos filhos vão a escolas e geram mais engarrafamento e stress, mais transportes, mais lanchinhos, embalagens e mais embalagens. Como a comida deve ser fácil e rápida, snacks entram no lugar de frutas ou pães, e com isso mais embalagens. Máquinas e mais máquinas, roupas compradas em lojas, e tudo que nos auxilia a consumir mais, ter melhor aparência e adequarmos nossa vida ao emprego, polui e acelera o sistema. E como pagamento por nosso esforço, ganhamos dinheiro, para comprar mais, gastar mais e poluir mais.

Emprego polui. E só nos empregamos por que não sabemos fazer outra coisa a não ser gerar dinheiro, para comprar mais e fazer menos. E no meio disso, para obtermos a impressão de descanso, nos entretemos diante de alguma bobagem, para que o consumo nos tenha entre tempos. Nos divertimos, para que nossa mente divirja daquilo que é importante. Saímos em grupos, para não sermos importunados pela família. Ligamos a TV para desligarmos a mente daquilo que nos oprime.

Uma boa medida para combater a extrema poluição que assola nosso planeta seria a busca do direito ao desemprego criador.

Texto fracionado

Fonte: http://www.baciadasalmas.com/2010/o-direito-ao-desemprego-criador