Humor - "Curpa dos Crente"

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Pastores de almas, uma espécie em extinção?



Pr. Renato Vargens

Há pouco tempo ouvi uma história a qual compartilho com vocês. Uma irmã (a qual, por questões obvias, não vou revelar o nome e igreja), passou pela seguinte experiência:
Em um final de culto, movida por um grave problema pessoal, ela procurou o seu pastor, no desejo de abrir o coração, pedindo-lhe que a ajudasse em aconselhamento pastoral. O pastor, sem poder ouvi-la naquele momento, até porque muita gente desejava lhe falar e, principalmente, cumprimentá-lo em virtude do "maravilhoso sermão "que havia pregado, solicitou à irmã que procurasse a secretaria da igreja e agendasse um encontro.

No dia seguinte a irmã procurou a secretaria, tentando agendar o encontro pastoral; no entanto, para sua surpresa, a secretária informou que o tal pastor não teria agenda livre para os próximos cinco meses, o que impossibilitaria o seu atendimento. A moça se desesperou, implorou, pediu pelo amor de Deus, mais nada pôde ser feito. A secretária explicou que o pastor tinha já agendado muitos encontros, jantares, viagens e conferências, as quais tinham que ser priorizadas, e que o máximo que ela poderia fazer seria encaixá-la num atendimento, quatro meses depois.
A moça saiu da igreja, naquela manhã de segunda-feira, pior do que entrara; na verdade, agora ela se sentia deprimida, desvalorizada e sem perspectiva alguma de ser ajudada em seu problema. O pastor, o qual ela pensava que poderia ajudá-la, infelizmente não poderia fazê-lo.

Seis meses se passaram e a moça desiludida, bem como desesperançosa, não fora mais à igreja. Para sua tristeza, ninguém, absolutamente ninguém, a procurara, querendo saber o motivo de sua ausência. Até que um dia, o pastor da igreja da qual fazia parte, encontrou-a na instituição bancária onde ela trabalhava. Ao vê-la, o pastor não esboçou nenhum comentário quanto à sua ausência; na verdade, a única coisa que falou, é que estava correndo em virtude da grande e complexa agenda.

Não sei o que você pensa e sente ao ler essa pequena história. Entretanto, quando soube do fato, fui tomado por uma grande perplexidade que me fez questionar sobre o papel pastoral nos dias de hoje. Aonde estão os pastores do povo de Deus? Aonde estão aqueles que por amor ao Rei, largam as 99 ovelhas e vão em busca de uma que se perdeu e sofre? Sem sombra de dúvidas, vivemos uma enorme crise de pessoalidade e afetividade na relação pastor-ovelha, isso porque, alguns dos ditos pastores se tornaram mega-stars da fé, imponentes pregadores, "Apóstolos desbravadores", além de "poderosos profetas". Junta-se a isso, o fato de que as mensagens pregadas nos púlpitos têm tido por fundamento o marketismo religioso, cujo conteúdo é humanista e secularizado. Infelizmente, sou obrigado a concordar que tais pastores têm se preocupado mais com a porta de entrada, do que com a porta de saída dos seus apriscos; mais com números do que com gente. Na verdade, ouso afirmar de que vivemos numa era onde as pessoas foram definitivamente coisificadas, onde seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus transformaram-se em gráficos e estatísticas.

Diante desta nebulosa perspectiva, sou tomado pela imprenssão de que essa geração necessita urgentemente de pastores de almas, de gente abnegada, que se preocupe com a dor do próximo e tenha prazer em cuidar da ovelha ferida. Para tanto, torna-se indispensável remodelar e reformar os conceitos pastorais desta geração, impregnando nos novos ministros, amor, compromisso e fidelidade para com Deus e seu Reino. Além disso, julgo também que seja imprescindível de que os pastores desse tempo, sejam plenamente comprometidos com a Santa Palavra de Deus, preocupando-se com o que ela diz, tomando-a como regra, bem como modelo de fé e comportamento para o seu ministério pessoal.

Vale a pena lembrarmos daquilo que o reformador francês João Calvino costumava dizer quanto a Palavra de Deus. (1) “A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores devem extrair dela tudo aquilo que expõem diante do rebanho” (2) Calvino afirmava que através da exposição da Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas a liberdade e a segurança da fé salvadora, dizia também que a verdadeira pregação, tem por objetivo abrir a porta do reino ao ouvinte, isto é, em outras palavras o que ele está a nos dizer, é que as Escrituras Sagradas, devem ser o principal instrumento na condução, consolidação e pastoreamento do povo de Deus.

No exercício de seu pastorado, Calvino dizia que a pregação pública deveria ser acompanhada por visitas pastorais. (3) Junta-se a isso o fato, de que ele sempre procurou encorajar pessoas sobrecarregadas, as quais não conseguiam encontrar consolo mediante sua própria aproximação de Deus, a procurarem seu pastor para aconselhamento particular e pessoal.

Conforme registro de um dos seus colegas pastores em Genebra, “(...) os que lhe procuravam eram recebidos com simpatia, gentileza e sensibilidade. Ele os atendia e prontamente lhes respondia as perguntas, mesmo as mais sérias delas. Sua sabedoria era demonstrada nas entrevistas particulares tanto quanto nas conversas públicas onde ele confortava os entristecidos e encorajava os abatidos...”. [4].

Calvino também acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida de suas ovelhas. Atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários. [5]

Amados irmãos, ainda que os nossos dias, sejam diferentes dos dias dos reformadores, carregamos em nosso tempo as mesmas demandas pastorais. Nossas igrejas estão cheias de individuos em crise, de familias desestruturadas, além de pessoas que foram violentamente marcadas por satanás e o pecado. Ouso afirmar que neste tempo pós moderno, onde o relativismo tem mostrado as suas garras, necessitamos urgentemente de pastores preparados e capacitados, que amem a Deus acima de todas as coisas, e que se disponham a pastorear abnegadamente o rebanho de Cristo.
Que Deus tenha misericórdia de seu povo e levante pastores segundo o seu coração. Soli Deo Gloria,
Pr. Renato Vargens

1) João Calvino, As Pastorais, Comentário em I Tm 4:13, p. 1232) http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_pastor_gildasio.htm - Gildásio Reis3) Calvin , John. Calvin´s Commentaries – The Epistles Of Paul – The Apostle To The Romans And To The Thessalonians. Grand R apids , Michigan : Eerdmans Publishins Company. p. 345 ( Ao camentar I Tessalonissenses 2:11, Calvino insiste em que o pastor precisa ser um “pai” para cada pessoa.4)Palavras de Nicolas des Gallars registradas por Richardr Staufer em The Humanness of John Calvin (New York: Abingdon Press, 1971) e citadas por Baumann.5) Calvino , João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. IV, 3: 6 - São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana. 1989.

Fonte: http://renatovargens.blogspot.com/2009/02/pastores-de-almas-uma-especie-em.html

Mulher cristã é condenada à morte no Paquistão

Um tribunal paquistanês condenou à morte uma mulher cristã, mãe de cinco filhos, por blasfêmia, provocando a revolta de grupos de defesa dos direitos humanos nesta quinta-feira.

Asia Bibi, de 45 anos, recebeu sua sentença na segunda-feira em uma corte do distrito de Nankana, na província central de Punjab, a 75 quilômetros de Punjab.

O Paquistão jamais executou um réu por blasfêmia, mas o caso joga luz sobre a polêmica lei islâmica do país, que incentivaria a ação de extremistas.

O processo de Asia começou em junho de 2009, quando ela foi buscar água enquanto trabalhava no campo. Um grupo de camponesas muçulmanas, no entanto, protestou, afirmando que uma mulher não-muçulmana não deveria tocar o jarro d'água do qual elas também beberiam.

Dias depois, o grupo de muçulmanas procurou um clérigo local e denunciou Asia, indicando que ela teria feito comentários depreciativos sobre o profeta Maomé. O sacerdote, por sua vez, procurou a polícia local, e uma investigação foi aberta.

Asia foi presa no vilarejo de Ittanwalai e indiciada sob a seção 295 C do Código Penal paquistanês, que inclui a pena de morte.

O juiz Navid Iqbal, que a condenou à morte por enforcamento, "excluiu completamente" qualquer hipótese de que a ré tivesse sido falsamente acusada, afirmando que não há "circunstâncias atenuantes" no caso, de acordo com o texto do veredicto.

O marido de Asia, Ashiq Masih, de 51 anos, disse à agência de notícias France Presse (AFP) que pretende apelar da condenação de sua mulher, que ainda precisa ser ratificada pela corte de Lahore, a mais alta de Punjab, antes de ser executada.

"O caso é infundado e nós entraremos com um recurso", declarou. O casal tem três filhas e dois filhos.

Segundo ativistas dos direitos humanos e defensores das minorias, é a primeira vez que uma mulher é sentenciada à morte por enforcamento no Paquistão por blasfêmia. Um casal foi condenado à prisão perpétua no ano passado pela mesma acusação.

"A lei da blasfêmia é completamente obscena e precisa ser derrubada em sua totalidade", disse à AFP Ali Dayan Hasan, porta-voz da organização Human Rights Watch.

Cerca de 3% da população paquistanesa, que chega a 167 milhões de pessoas, é composta por não-muçulmanos.

Fonte: G1, 11/11/2010

O Brasil precisa de pastores de caráter limpo

por Samuel Costa da Silva

O caráter de um pastor define o seu ministério. Isso significa que um pastor cujo caráter é íntegro produzirá um ministério limpo, cheio de graça e de verdade, um ministério sem nebulosidades. Contudo, um pastor sem caráter, invariavelmente, produzirá um ministério fajuto, de mentirinha, caracterizado pela arrogância, vaidade, roubos (não só financeiros, mas de tempo e de vidas), adultérios e neuroses pessoais pretensamente anunciadas como revelações de Deus.

Não adianta um ministério aclamado pelos homens, mas reprovado por Deus. No final, o que conta mesmo é minha vida diante de Deus. Quando se trata de liderança pastoral há um trecho da palavra de Deus que muito me chama a atenção. É o texto de Mateus 7:21-23, que diz: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”

O curioso nesse texto é que todas as realizações alegadas pelos que estão sendo reprovados no juízo final são funções associadas à liderança pastoral: profecias, expulsão de demônios, realização de milagres. Só líderes no reino de Deus realizam tais tarefas. O Senhor, entretanto, os reprova, pois o coração desses líderes não era limpo, seu testemunho era condenável, suas motivações mais íntimas eram mesquinhas e egoístas. Na verdade, esses líderes tomavam o nome de Deus em vão todas as vezes que realizavam milagres, profetizavam ou expeliam demônios, pois no dia-a-dia “praticavam a iniqüidade”, promoviam a si mesmos.

Jesus, no sermão do Monte, entre outras bem-aventuranças, declarou que são “bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt. 5:8). Deus se importa muito com um coração limpo. Por essa razão, Jesus inclui os limpos de coração em suas bem-aventuranças.

O pastor precisa ter coração limpo se deseja servir a Deus com integridade e um testemunho pessoal aprovado. Davi escreve “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente” (Salmo 24:3-4). Por isso, o líder da igreja, deve conservar o “mistério da fé com a consciência limpa” (I Tm. 3:9).

Manter um bom testemunho por ter um coração limpo não necessariamente fará do pastor um sucesso entre os homens. Pelo menos enquanto este pastor estiver vivo. Depois de morto é outra história. Não obstante, é o bom testemunho que fará desse líder um vitorioso diante do Seu Senhor, pois Deus sabe que o bom testemunho agrega as ovelhas, enobrece o reino de Deus, honra o nome do Senhor, não escandaliza os mais fracos na fé.

Portanto, cabe a cada líder pastoral avaliar diariamente como está o seu coração. Esse exercício devocional é imprescindível para ser bem sucedido no ministério da Palavra, pois somente os limpos de coração verão a Deus e, assim, serão considerados bem-aventurados.

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site www.institutojetro.com e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com.

O colapso do "Movimento Evangélico"

por Ricardo Gondim

Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".

Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .

Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.

É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.

Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".

Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.

O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.

1. A teologia da Graça

Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.

Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.

Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).

Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.

2. A compreensão da Fé

“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.

“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).

Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.

Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.

O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.

A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.

O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.

Soli Deo Gloria

Aceite seus limites

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Apologética e Compaixão

Max Lucado convencido de que a compaixão é a melhor apologética

Depois de mais de 20 anos de pastoreio e discipulado cristãos, o autor best-seller Max Lucado está entrando em uma nova apologética – compaixão.

"Essa ideia de compaixão sendo a melhor apologética realmente captou o meu coração," disse ele.

Foi cerca de quatro a seis anos atrás quando o membro da banda Third Day, Tai Anderson, perguntou a Lucado uma questão desafiadora.

"Quando seus bisnetos souberem que você viveu em um dia em que um bilhão de pessoas estavam com fome e 27.000 pessoas morriam diariamente de doenças inevitáveis, como é que eles avaliariam sua resposta?"

"O Senhor usou essa pergunta para me acordar," disse Lucado.

"Eu tinha dedicado muito da minha vida ao evangelismo e às iniciativas do discipulado, mas eu tive que reconhecer que eu não tinha feito muito na área de compaixão, que é realmente a terceira perna do banquinho da fé cristã," notou o renomado autor, que atualmente atua como Ministro da Pregação da Oak Hills Church, em San Antonio, Texas.

Com isso, Lucado escreveu seu último livro Outlive Your Life: You Were Made to Make a Difference, na esperança de inspirar os Cristãos a aproveitarem a oportunidade para "embalar o mundo com esperança" e "posicionar-se ao lado de Cristo na área da compaixão."

"Vivemos em um dia em que é a coisa agora é ser crítico ou cínico a respeito dos Cristãos, zombar de qualquer um que acreditaria na morte, sepultamento e ressurreição de Cristo," disse Lucado, que tem mais de 65 milhões de livros impressos.

Embora os Cristãos precisem responder intelectualmente para explicarem sua fé, o pastor de longa data reconheu, "Quando a Igreja defende volta com a sociedade, eu não sei se vai muito longe."

"Mas, se podemos dizer que nossa paixão é ajudar os pobres e esquecidos, você não pode discutir com isso,"observou ele. "Nada convence as pessoas de nosso Senhor melhor do que viver como ele viveu. Não podemos viver como ele viveu sem sermos compassivos."

Os Cristãos de hoje devem aproveitar essa oportunidade.

"Nunca a Igreja esteve tão rica, tão educada ...," acrescentou. "Estou muito animado com a idéia de que nossas Igrejas poderiam ser conhecidas em nossas comunidades como o porta-estandartes para a compaixão."

Este mês, como parte de sua celebração do 25 º aniversário como um autor, Lucado já embarcou em uma turnê de 20 cidades com artistas populares cristãos TobyMac, Third Day, Michael W. Smith e Jason Gray. O The Make A Difference Tour está encorajando o público a patrocinarem as crianças através da organização humanitária global da Visão Mundial como uma forma de fazer algo por compaixão.

Apenas algumas cidades, cerca de 5.000 crianças já foram patrocinadas. Lucado está na expectativa de ter 25 mil crianças apadrinhadas.

Além disso, 100 por cento dos royalties de seu livro mais recente vão beneficiar o trabalho da Visão Mundial e de outros ministérios pequenos em San Antonio.

Fonte: Christian Post

Templocentrismo e Religiosidade

Teologia para sobreviver ao templocentrismo e à religiosidade

por Gedeon Lidório

Uma tentativa de leitura do movimento evangélico brasileiro contemporâneo

Introdução

Neste texto pretendo tratar de uma série de ambigüidades. Esta não é uma análise profunda e ampla, mas uma visão limitada a aspectos da igreja evangélica brasileira, como bem trata da conceituação sobre o método científico, estudando atitudes e crenças para então chegar a uma síntese. Ao propor uma análise, pretende-se, estabelecidos os critérios, olhar a igreja de forma antropológica e sociológica, não apenas objetando entre o certo e o errado, mas tratando da igreja, seus membros, práticas e teologia como objeto científico de estudo de caso.

Muito se poderia dizer sobre a igreja, muitos livros já foram escritos e o que pretende se estudar aqui não é nenhuma novidade, mas ao analisar a igreja do ponto de vista antropológico e sociológico quer se enxergar o que obviamente não pode ser visto pelo prisma denominacional ou mesmo apenas teológico e sistemático, pois a isenção seria bem menor – ao partir de um ponto focal – sistemático – limita-se o objeto de estudo a um lado apenas. Ao olhar sem o ponto focal teológico ou mesmo eclesiástico tende-se a notar fatos, que isoladamente passam despercebidos, mas juntos com outros refletem as características, as conformações ou in-conformações que a igreja evangélica brasileira tem em seu contexto diário.

Como é a igreja numa época contemporânea?

Às vezes percebo que fazemos um exercício estranho – falamos da igreja e nos referimos ao texto do Novo Testamento ou à época em que a igreja chamada primitiva existia e assim somos tentados a pensar que somos aquela igreja. Os conceitos que esposamos são os deles; as práticas que tentamos implementar parecem-se com as deles; nossas doutrinas tem os mesmos nomes; nosso sistema de governo e por ai vai, onde confundimos idealização com realidade.

A igreja que viveu naquela época é única, como nós em nossa também o somos. As situações concretas de cultura, de sociedade, de economia, de artes, de beleza estética, de padrões religiosos dentro da cultura helênica-judaico-romana da época fizeram aqueles homens e mulheres viver daquela forma, expressar sua fé daquele jeito e com certeza foram autênticos. A igreja, em nossa época para além da modernidade tem características diferentes, mas nem por isso precisamos deixar de ser autênticos – e ser autêntico não é imitar irrestritamente a igreja primitiva, pois isso seria insensatez, a despeito da sua cultura e seus valores serem muito diferentes dos nossos.

Um exemplo: quando Paulo fala sobre véu, cabelo grande ou cortado para uma cultura eclesiástica do primeiro século, especificamente para a igreja que estava em Corinto ele tem valores em mente que não podemos reproduzir em nossa cultura justamente porque não temos as mesmas situações vivenciais. Mulheres do templo raspavam a cabeça como forma de religiosidade dentro dos templos da cidade, principalmente no templo de Afrodite, que impõe das sacerdotisas a prostituição cultual como forma de serviço religioso prestado à ‘deusa’ e aos coríntios. O homem coríntio visitava o templo para prestar o seu serviço religioso através de sexo com mulheres do templo. Coritianizar na época já era sinônimo de prostituir-se. Algumas destas mulheres, tornando-se cristãs deviam manter sua cabeça coberta com um véu ou mesmo deixar o cabelo crescer e não cortá-lo mais. Paulo instrui a igreja sobre isso como forma de dar um resignificado à estrutura daquelas mulheres, como que as instruindo a mostrarem para todos que não fazem mais parte daquele contexto de prostituição, pecado e subversão religiosa. Nós, em nosso tempo, trazemos esta situação puramente única naquele contexto como regra e doutrina para a igreja hoje e impomos às mulheres, muitas em muitos lugares, que não cortem seu cabelo ou que usem véu como sinal de que são santas. Isso é insanidade e uma hermenêutica no mínimo irresponsável. Não temos mais o contexto dos templos de Afrodite, das prostitutas cultuais e nem o contexto de vida da cidade de Corinto, portanto nossa maneira de ser, de pensar e de se portar diante de tal questão deve ser diferente. Ser cristão e crer no Novo Testamento não são, em hipótese alguma, um transportar irresponsavelmente de doutrinas e conceitos vividos por aqueles homens e mulheres do primeiro século e assim querer que nossos contemporâneos pensem igual ou vivam de igual modo. Isso é alienação, isso não é evangelho. O evangelho é supra cultural e pode ser contextualizado em qualquer cultura, época ou situação.

A época contemporânea caracteriza-se principalmente pelas falas multiformes a respeito da fé, do pluralismo, da secularização presente na pós ou hiper-modernidade e infelizmente esta maneira de ser e pensar não está distante dos arraiais da igreja.

O pluralismo vem à tona no passado principalmente pela contestação que Schleiermarcher faz sobre a exclusividade do cristianismo na pessoa de Cristo como sendo única porta para a salvação – a idéia por trás de tal contestação é que o evento da salvação está de alguma forma disponível em toda e qualquer religião e que Jesus é a suprema manifestação dessa consciência religiosa universal

Caracterizando mesmo que rapidamente o que se entende sobre a pós-modernidade podemos afirmar que uma transformação está acontecendo em todo o mundo e isso já se nota claramente na comunicação, na economia, na arquitetura, nas artes, na filosofia, ou seja é um fenômeno cultural amplo, apesar do que, em nosso contexto geográfico, o Brasil sofre de mudanças continentais, pois o que é amplamente visto no sul do país, por exemplo, não é o mesmo no norte ou nordeste. Parece que quanto mais ao sul, mais a cultura é secularizada e com atitudes ‘pós-modernas’ e quanto mais ao norte menos. Grenz afirmou que “estamos passando por um deslocamento cultural” (Grenz, 1997, p.16). Esse deslocamento molda todo o pensamento da vida do ser humano e não seria diferente no âmbito religioso ou teológico. O termo (pós-modernismo) talvez venha ser utilizado a partir da década de 30, mas somente na década de 70 é que ganha realmente destaque, apesar de entendermos historicamente que o ‘pós-modernismo’ não é algo muito fácil de detectar e que este processo se dá em meio ao ‘modernismo’. Grenz também nos informa que “quaisquer que sejam os outros significados que se possam atribuir ao pós-modernismo, conforme indica o termo, sua signficação relaciona-se com o deslocamento para além da modernidade” (Grenz, 1997, p. 17). Por isso prefiro o termo hiper-modernidade à simplesmente falar em algo que é pós alguma coisa, pois o que vemos é um fenômeno que está dentro de uma situação contemporânea e pontualmente diferente em diversos contextos. Vemos pontos de hiper-modernidade em vários lugares, mas também conseguimos ver até idade média em conceitos religiosos e práticas de espiritualidade sendo vivenciados por pessoas de nossa época.

Essa é basicamente a crise por qual a igreja evangélica brasileira passa, apesar do hiper-modernismo ainda não estar “completamente” presente no país, sendo que enxerga-se o seu brilho aqui e ali, em situações específicas, até porque não se pode falar sobre esse ‘fenômeno’ como uma coisa concreta, porém, como Grenz afirmou é uma mudança cultural ampla que vai além da modernidade.

O espírito hiper-moderno, este germe, porém, encontra-se presente nos círculos de relacionamento e a igreja, como sempre está um pouco atrasada em relação às mudanças, quase sempre correndo atrás do prejuízo e não antevendo crises, enxergando sua época para saber o que deve fazer.

Ter posições monolíticas não ajuda a igreja com o passar do tempo. Convicções são poderosas e devemos ficar firmes naquilo que realmente é a vida cristã, ao mesmo tempo em que estabelecer diálogo com as pessoas é uma tarefa das mais necessárias, pois somente através do diálogo, aberto, sem preconceito, é que podemos ajudar o máximo possível de pessoas. Por exemplo: a igreja luta contra a questão do homossexualismo e da homossexualidade e o discurso sempre foi o mesmo: é pecado e ponto final, mas o problema é que sempre se pensa nas atitudes e esquecem-se que por trás de tais condições e atitudes encontram-se pessoas, seres humanos com carne e alma, amados por Deus como pecadores que são, assim como todos os outros seres humanos que não estão na condição de uma sexualidade normativamente diferente mas carecem da glória de Deus (Romanos 3.23) – todos somos pecadores e carecemos da glória de Deus! Hoje começamos a pensar no que fazer com esta questão, pois batem em nossa porta medidas extremas vindas através de decretos, leis, planos de direitos humanos, porém creio que no Brasil o tempo em que poderia haver algum diálogo passou, pois as leis que virão e devem ser aprovadas nos próximos anos trarão sobre a igreja uma necessidade nunca antes vivida e, sinceramente, creio que não estamos preparados para viver estes novos tempos e muitos serão solapados em meio a tantas mudanças.

As sensações vividas por muitos brasileiros ao longo de sua vida junto à igreja têm desembocado em decepção e posterior afastamento de convívio com a instituição eclesiástica; muitas vezes pessoas que por anos a fio são líderes destas igrejas, tomam atitudes ousadas e radicais ao afastar-se de toda e qualquer influência deste círculo evangélico denominacional e acabam engrossando o número dos decepcionados e dos sem igreja. Muitos destes se recusam a viver qualquer coisa que pelo menos pareça igreja ou comunidade evangélica e radicalmente se colocam em posição diametralmente oposta ao seguimento evangélico denominacional. Por causa destas mazelas, muito se tem falado sobre uma nova forma de viver a vida evangélica, uma vida que não dependa das instituições. Infelizmente, isso tem gerado uma manifestação de saqueamento das verdades de Cristo, o Evangelho e criado ao longo do caminho pessoas e grupos que praticam um pluralismo religioso extremamente liberal e disforme.

Por um lado, o pluralismo religioso brasileiro parece manifestar uma concordância genérica, principalmente no pensamento comum de que toda religião é boa e que em matéria de religião não se deve haver discussão ou mesmo quando afirma que o que importa é fazer o correto, ser uma pessoa de bem; por outro lado os decepcionados e secularizados que saíram das fileiras evangélicas criam um vácuo enorme sustentado principalmente pela falta de absolutos, pois esta é a tendência – não fazer com outros o que fizeram conosco e assim incluem sem nenhum critério pessoas de qualquer credo ou manifestação religiosa e desta forma floresce o relativismo que é campo aberto para manifestação de pensamentos hiper-modernos e secularizados.

No Brasil, isso ou esse tipo de pensamento afetou diretamente a igreja. Quando olhamos objetivamente para a igreja contemporânea entendemos que há alguma coisa fora do lugar e esse objeto que se move fora do ritmo é causado principalmente por duas coisas: 1) falta de uma visão contextual em meio a vida comum, produzindo fiéis alienados e alienantes, pessoas que não conseguem agir e interagir em meio ao mundo secular sem sentir um vazio religioso, como se estivessem em pecado constante e também 2) uma interpretação das Escrituras com uma hermenêutica profundamente literalista e desprovida da devida contextualização da mensagem para nossos dias. As mensagens dos púlpitos parecem fazer sentido somente entre quatro paredes dos templos. A igreja perdeu os seus ideais absolutos e capenga entre um relativismo aberto e uma subjetividade que desacredita, ainda que veladamente de alguns referenciais. Assim, há de se colocar diversas crenças e práticas entre parênteses, em suspenso, para depois, devagar e sem alarde poder substituí-los.

Na tentativa de resolver tais dificuldades, muitos querem simplesmente objetar que a linguagem bíblica é por demasiada enfadonha e antiga e então optam pela tradução mais moderna, uma tradução contemporânea, seja ela NVI, Viva, Almeida Século 21 ou Linguagem de Hoje para fazer o povo entender as noções que estão sendo deixadas de lado. Isso não fará em si muita diferença para que se obtenha uma mensagem contextual, pois o extrato do pensamento de quem lê e quem escuta continua inalterado e as palavras diferentes não produzem efeito diferente, mas normatizam o que já se tem ‘aprendido’ desde os tempos antigos – já lemos os textos bíblicos com nossa teologia formatada e pré-definida, diria até preconceituosa. Existe aí um problema de comunicação – a palavra é comunicada tendo por base pressupostos pessoais – o que Paulo argumenta em Romanos 15.20-21 como sendo ‘outro fundamento’. Falar sobre Cristo, inda que em linguagem mais moderna e contemporânea simplesmente reafirma o arquétipo criado pela mentalidade plural, relativista e rasa das pessoas que o escutam. As palavras, lidas, recitadas ou memorizadas tem, por força desta nova hermenêutica que toma conta dos crentes, uma interpretação subjetiva, ou seja, depende de quem as lê. Por isso, verdade que são tidas como doutrinas passam a ser contestadas e perdem o valor dependendo do ambiente cultural e social que é lida ou falada e cada um segue absorvendo os conceitos que quer, interpretando da maneira que melhor lhe apraz, pois afinal vivemos um tempo em que a clientela é que dita como deve ser o serviço oferecido pelos templos religiosos. Queremos mais qualidade, mais conforto, menos confronto, mensagens menores, eventos no lugar de celebrações, cultos com novidades que atraiam pessoas, ambiente acolhedor, com pastores ou pregadores que nos façam rir, que sejam o centro do show e que reverenciem a nós, espectadores.

Isso tem transformado igrejas em produtos que são comercializados em vitrines de um ‘shopping’. Fazemos parte de um conceito sociológico que dita que se deve tratar das questões de maneira politicamente corretas, uma influência muito clara de conceitos defendidos por Foucault que dizia que todo discurso que quer se impuser como verdade ou como algo que é superior ao que se é falado ou vivido deve ser prontamente rejeitado, porque isso não é correto de se fazer. Nosso politicamente correto é uma tentativa de aplacar palavras, discursos e idéias e transformar as mensagens mais radicais em conceitos aceitáveis por todos. A grande pergunta que deve ser feita é: quem determina o que deve ou não ser falado? Na hermenêutica da hiper-modernidade não há absolutos, portanto é o relativismo pessoal que escolhe o que é bom ou não pra mim mesmo; sendo assim, ser politicamente correto e nunca discordar de ninguém em nada e nunca instruir ninguém a, por exemplo, seguir uma idéia eticamente correta, pois isso seria impor uma condição ou idéia sobre outro ser humano. O cliente é que deve sempre ter razão e por isso nossa clientela mostra-se cada dia mais insatisfeita e exigindo mudanças drásticas em como a igreja é conduzida. O padrão não é mais o padrão de Deus, mas o padrão humano. A qualidade não é mais a qualidade vinda do Espírito, mas uma tentativa de implantar o ISO 9000 em igrejas e comunidades religiosas... isso não quer dizer que não devemos fazer as coisas na igreja com qualidade, pois é pra Deus que fazemos, mas a qualidade de Deus é diferente do conceito humano de qualidade. Deus quer uma qualidade não aparente, que vem da interiorização de práticas e conceitos como amor, compartilhar, fé, abnegação, repartir... nossos conceitos de qualidade tem a ver com estruturas, bancos confortáveis, sensação de bem estar, pregações que não ‘ferem’ os ouvidos com verdades doloridas etc.

Essa é a idéia de uma inculturação onde o evangelho é retalhado por práticas politicamente corretas para que não traga ofensa, mas aceitação; não produza empecilhos, mas caminhos abertos; não crie rejeição ou preconceito, mas conformidade e concordância. O problema nisso é que o evangelho precisa ser contextualizado e não inculturado, pois o evangelho não é fruto de formulações humanas, mas é revelação divina. Na inculturação torna-se Deus num ser aceitável, que não condena, mas somente aceita e somente inclui. Na contextualização da mensagem Deus continua Deus, mas sua mensagem é entendida dentro do contexto, ela toda, não parte dela e ao mesmo tempo em que Deus ama ele disciplina; ele condena; ele rejeita; ele modifica o caráter; ele faz crescer o ser humano, na condição de tornar a cada um de nós mais parecidos com Cristo, seu Filho.

Padece-se de uma reforma radical, onde tanto a mensagem como a sua interpretação falem a língua do brasileiro, desça para suas necessidades e transforme a realidade do ser humano, dando lugar não a uma avalanche de regras e normas, leis e doutrinas, mas a uma continuada sensação de estar sendo moldado pela vida, por Deus, em alguém mais parecido com Cristo – só assim a Igreja atingirá as pessoas e moldará o caráter delas; só assim veremos corrupção sendo transformada em confissão; desvios de verba sendo transformados em reposição do que se roubou e sucessivamente uma grande subversão dos valores onde crises pessoais, familiares e comunitárias se darão e esta consciência avassaladora ajudará a modificar a realidade de milhões de pessoas.

É preciso pelo menos tentar responder a Ghandi, quando ele dizia que se enxergasse um cristão que fosse parecido com Cristo ele mesmo se tornaria cristão.

Parece, em primeira análise que conseguimos viver dia após dia separando o inseparável, tentando fazer com que o profano do mundo secular não invada o espaço sagrado e assim contaminando-nos a todos. Temos esta noção espacial advinda principalmente das questões centrais da religiosidade do povo do Antigo Testamento ou talvez, de nossa interpretação de como vivia este povo e numa tentativa de trazer para nossa época, nosso contexto, mensagem, regras, normais, leis e vivência do Israel, geográfica e historicamente localizados em uma época completamente diferente da nossa – precisamos urgentemente entender que o evangelho é a mensagem de Deus em Cristo para nós e é revelacional, ou seja, pode ser entendido em qualquer cultura, em qualquer época, em qualquer momento histórico sem que seja necessária a importação dos conceitos aplicáveis apenas à cultura de Israel, mas contextualizados completamente em nossa cultura, língua e época. Infelizmente, quando nos evangelizaram trouxeram juntamente com a Palavra de Deus a cultura daqueles que nos doavam do seu tempo e ministério e a um pacote fechado chamamos de evangelho tanto os conceitos bíblico-teológicos a respeito de Cristo como cânticos, roupas e costumes dos povos que nos evangelizaram. Criou-se um dualismo radical e um pragmatismo sem medida em nosso meio evangélico nacional.

Este nosso dualismo tem raiz em uma visão errônea bíblico-teológica do Antigo Testamento e da falsa noção sobre santidade e separação do mundo que temos como se ser separado (ser santo) fosse algo alienante e restrito a alguns ambientes que nos foi trazida pelos que nos evangelizaram no passado.

Olhando para os escritos do Antigo Testamento e para a história de Israel vemos um padrão que se interpõe na relação ser humano e Deus: quanto mais perto das coisas de Deus, do sagrado, mais perto de Deus e então, quanto mais distante das coisas sagradas mais longe de Deus.

Esta idéia permeia todo o AT e a própria vida relatada nos tempos do Israel bíblico. O tabu, ou seja, o instrumento de preservação do sagrado e de identificação do profano é que vai ajudando o povo de Israel a viver de acordo com suas crenças e quando analisamos isso entendemos que somente assim poderemos compreender a vida em sociedade do povo de Israel e, por conseguinte os seus escritos muitas vezes tão radicais pra nós nos livros do AT.

Em uma conversa informal com o Dr. Stefan Kürle (biblista e especialista em AT, professor na Faculdade Teológica Sul Americana) ele me faz ver que há quatro grandes categorias que precisamos analisar quando olhamos para a espiritualidade no AT – de um lado o sagrado e o profano e do outro lado as coisas puras e as impuras. De acordo com ele, o sagrado e as coisas impuras são ativos, ou seja, podem influenciar e modificar o status das outras coisas; o profano e as coisas puras, porém, são passivas, ou seja, sempre sofrem a ação sobre elas.

O profano é visto por nosso povo brasileiro como um conceito igual ao da impureza e temos a tendência de pensar que tudo que é profano é errado ou pecado.

Precisamos entender isso: profano, num contexto de análise antropológica e sociológica é simplesmente aquilo que não é sagrado, ou seja, pertencente a Deus e ao seu contexto – no AT, o templo era sagrado, enquanto que as casas que habitavam as pessoas eram profanas – ou seja, um era dedicado, sacramentalizado para o uso de Deus e para Deus e as outras coisas era comuns, ordinárias, faziam parte da vida comum.

Precisamos fazer uma separação entre aquilo que encontramos no AT, pelo menos no que é escrito e composto antes do exílio e aquilo que é escrito pós-exílio na Babilônia. No período pré-exílio, grande parte dos escritos origina-se em meio ao povo numa tentativa de subverter a ordem estabelecida, contra a opressão monárquica em Israel e produzem grande parte dos textos libertadores do AT, onde e espiritualidade e o espiritual não precisam ser revestidos apenas de coisas sagradas, mas a vida ‘profana’ (comum) do povo é revestida de uma espiritualidade libertadora e centrada na relação com Deus e não apenas com o templo e a religiosidade vigente.

No pós-exílio, porém, os escritos são revisitados e toma-se muito da idéia conceitual do ‘zoroastrismo’ que produz um dualismo exagerado e uma ênfase que ultrapassa os conceitos e invade a vida de maneira que tudo que é Deus e que é a vontade de Deus para o povo tende a ser somente aquilo que é considerado como sagrado – o templo (eles tem saudade dele), os sacerdotes, os objetos do templo, as orações feitas no templo e a vida comum, ordinária (profana) é desprovida desta significação espiritual; isso, a meu ver, cria ao longo do tempo o nosso conceito de santidade e santificação que é estar fora do mundo que para nós é profano (não apenas diferente do sagrado, mas em oposição a ele e com poder de modificação do seu status). No caso de Israel Deus interfere de modo profundo através de Jeremias quando fala:

      “Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz” (Jeremias 29.4-7).

Com isso Deus estava querendo mostrar que a vida sagrada que ele desejava para o seu povo não era simples lembrança ou menção de um passado destruído, mas a espiritualidade no conviver com a sociedade local, abençoá-la, fazer dali o seu lar, fazer dali o lugar onde poderia abençoar e ser abençoado, fazer dali o centro da vontade de Deus para o povo.

A vida evangélica contemporânea no Brasil, porém, é tremendamente dualista e profundamente pragmática.

Dualista porque não consegue ver que o sagrado precisa invadir a vida comum (profano) para exercer o seu poder de transformar em puras coisas impuras e que esta separação de mundo da vida da igreja é contrária ao próprio discurso de Jesus em João 17, na sua oração sacerdotal, onde ele pede ao Pai que não nos tire do mundo, mas que nos santifique em meio a ele – ou seja, faça de nós, templos andantes que somos, objetos que santifiquem o profano e ajudem na transformação de coisas impuras em puras.

Pragmática porque instaurado este conceitual dualista é necessário pensar que somente pessoas certas, fazendo aquilo que é correto darão o resultado esperado por Deus e, portanto será o que Deus espera.

Um grande exemplo disso é visto na megalomaníaca idéia de crescimento de igreja que temos em nosso contexto brasileiro. Quando dois ou três pastores se reúnem pra conversar alguma coisa invariavelmente a pergunta: “Quantos membros tem a sua igreja?” vai estar presente. Acabamos por crer que as metodologias, os modelos, as estratégias são em si mesmas eficientes para dar vazão ao nosso apetite voraz por mais pessoas em nossos templos. Nada mais pragmático do que: seja a pessoa certa, faça a coisa certa, faça no lugar certo que dará tudo certo.

Esse pragmatismo nós herdamos da cultura norte americana e gostamos destes modelos prontos, enlatados e que simplesmente precisam ser replicados para que o resultado seja colhido – mais pessoas em nossos bancos, mais eficiência no ministério pastoral, maior eficácia de nossas estratégias, melhor relação custo-benefício em nossos investimentos missionários. É necessário ter lucro, ter resultado para que seja correto fazer.

Esta opção pelo que funciona é uma demonstração também da ênfase da hiper-modernidade nos pensamentos inclusive de líderes eclesiásticos tidos como conservadores e fundamentalistas. A grande questão aqui, do pragmatismo que exala nas práticas funcionais é que a verdade não mais importa em última análise, mas sim, como os resultados vão aparecer e como serão vistos e principalmente como é que isso vai impactar nossa vida eclesiástica, nos transformando em referência para os outros, pois, estamos fazendo diferença em nosso contexto. Quase sempre, em reuniões de liderança hoje, ouvimos sobre onde queremos chegar. Metas. Resultados. Números. O trabalho em si, o caminho que se vai pagando preços para estar mais perto do Salvador e da sua vida é substituída por gráficos e relatórios de resultados no alcance de pessoas.

Há vários perigos deste pragmatismo em meio à igreja. Ronaldo Lidório, em seu livro “Plantando Igrejas” lista alguns:

  • O perigo dos resultados substituírem o caráter no perfil do obreiro - o equívoco da valorização dos frutos em detrimento do coração piedoso e crente;
  • O perigo de a capacidade humana substituir a procura por dependência de Deus - O perigo de supervalorizarmos as nossas estruturas no que tange a logística, conhecimento, preparo acadêmico e capacitação em detrimento da prática de viver, trabalhar e sonhar tendo, sobretudo no coração a incrível convicção de que nós dependemos de Deus;
  • O perigo das estratégias certeiras substituírem o compromisso com a Palavra no crescimento da Igreja e expansão da obra missionária - nem tudo que dá certo é necessariamente bíblico e íntegro;
  • O perigo do zelo teológico se divorciar da prática missionária - de desenvolvermos um ensino teológico sem ligação com a Igreja, sua vida e dinâmica.

Enfim, o cristianismo e a cristandade cada dia mais estão separados e parece não tão distante o dia em que as palavras do apóstolo João no Apocalipse, em que Jesus, do lado de fora, bate na porta e diz querer ter comunhão com sua igreja, mas esta nem o percebe. Parece que estamos criando um cristianismo onde Cristo não é mais o centro, mas o ser humano e suas necessidades e desejos.

Nossa espiritualidade tem sido desencarnada e numa mescla de espiritualismos com legalismos criamos uma ‘máscara’ e extrapolamos a fé; criamos novas maneiras de enxergar expressões cúlticas como se isso fosse o centro de nossa espiritualidade. Trocamos a espiritualidade do ser por um ser espiritual dentro dos templos, dos cultos, das atividades e eventos que promovemos para criar ‘comunhão’.

Somos crentes do templo, centralizados na espiritualidade que faz sentido apenas dentro das quatro paredes em que nos congregamos como se igreja fosse, em qualquer análise apenas este momento mágico do culto público, onde nos reunimos, louvamos, sorrimos, ouvimos, dizimamos, ofertamos, somos confortados e localizamos a espiritualidade – Deus está presente no seu santo templo é traduzido por nós como Deus presente em ‘nossa igreja’ – um lugar, uma casa, um prédio suntuoso, um hotel, um café... Localizados geograficamente substituímos a união de Cristo com sua igreja, em seu corpo, pelo Espírito que habita na igreja pela união da comunidade local – a igreja é maior que o templo e passa a maior parte da vida na prática, fora dele.

A igreja é você, sou eu, em nossa casa, criando nossos filhos, vivendo a vida comum do lar; trabalhando como empregados; vivendo empresários; desempregados procurando emprego; mulheres querendo ter filhos; crianças sentindo medo do escuro; adultos tendo medo do futuro e das mudanças econômicas; na fila do banco; no banco da praça; no supermercado; no caixa eletrônico; andando de carro; subindo para o ônibus; caminhando na rua; vivendo junto com as pessoas – a igreja se mostra, a igreja se ‘reúne’, a igreja se insurge e Cristo caminha entre nós muito mais vezes entre nossas mazelas e dificuldades do que em meio a muitos cultos megalomaníacos e frívolos, desprovidos de sentido de glorificação do Senhor, numa tentativa vã, mas bem sucedida, de auto-glorificação, de auto-nomeação, de auto-adoração.

Deus precisa ter misericórdia de nós neste nosso tempo de ser e de viver.

Aridez Espiritual


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