HAITI - Deus onde estava?

O Haiti é um dos menores países e mais pobres do hemisfério ocidental; descendentes de escravos africanos, os haitianos passam, neste momento, por uma experiência de extremo sofrimento que põe à prova o espírito de solidariedade do resto do mundo.

Depois de Cuba, Haiti é a maior ilha do arquipélago das Antilhas, com uma superfície de 76.000 km2 e cerca de 9 milhões de Habitantes. É conhecido como La Española. Cristóvão Colombo chegou ali em 1492.
Começou a ser colonizada para fins agrícolas tendo para isso recorrido, como era habitual na época, à escravatura dos indígenas e de negros trazidos de África.

Depois da colonização espanhola, a Ilha recebeu grande influência francesa, mas quase toda a população indígena tinha sido dizimada pelas doenças e pela força das armas. Os franceses desenvolveram ali a lavoura açucareira, trazendo, para isso, mão-de-obra abundante africana.

Apesar das formas de opressão, ou talvez por isso, Haiti foi a primeira nação latino-americana a tornar-se independente, consequência do descontentamento e humilhação dos milhares de escravos em relação aos seus colonizadores.

Mackandal e Vicente Ogé são nomes de escravos que ficaram na história lendária da libertação do Haiti. Mais tarde, o herói haitiano foi Toussaint Louverture, que lutou primeiro contra os franceses e mais tarde contra espanhóis e ingleses, a partir do qual se declara independente.

Napoleão tentou recuperar a Ilha novamente para a França, mas um dos generais de Toussaint, em 1 de Janeiro de 1804, expulsou os franceses e consolidou definitivamente a independência.

Sucederam-se diversos líderes que procuraram organizar a nação, mas não puderam evitar a criação, ao lado, de um novo país, a República Dominicana, que faz parte da mesma Ilha.

O período mais difícil do Haiti ocorreu durante a ditadura de François Duvalier, o Papa Doc (pai doutor), através de uma dura repressão militar, sucedendo-se uma série de outros militares, que conduziram o país até 1990, quando foi possível realizar eleições livres e o povo elegeu o padre Jean Bertrand Aristide para presidente.

Apesar da recente democracia conquistada, o país continuou numa forte instabilidade, com corrupção, violência e miséria a tomar conta da população.

Em Fevereiro d 2004, um grupo de rebeldes descontentes, destituem o presidente, que foge para África. As Nações Unidas intervêm e entram na Ilha.

Deus, onde estava?

Após a catástrofe do terremoto no dia 12 de Janeiro, há uma pergunta que ocorre a qualquer humano: e Deus onde estava naquele momento?

Para crentes e não crentes foi sempre difícil entender o sentido do sofrimento, sobretudo aquele que é provocado por causas naturais, onde não há intervenção humana.

De fato, há tragédias que o homem pode evitar. São aquelas que dependem do egoísmo humano: a ambição, as violências, as injustiças. Aqui, Deus não intervém, porque pode intervir o homem e evitar os males dali consequentes.

Mas as tragédias naturais também causam sofrimento e o homem não pode fugir a ele. E Deus?

A fé diz-nos que Deus podia intervir e evitar também essas tragédias. A mesma fé diz-nos igualmente que Deus, assim como respeita a liberdade humana, respeita também as leis da física e do universo.

Não intervém, por um lado, para acontecer ou provocar estes fenómenos, que chamamos trágicos, mas que têm origem no processo do ritmo interno do universo; neste sentido, ninguém tem o direito de olhar para eles como uma forma de castigo divino.

Deus, por outro lado, também não intervém para os evitar porque Ele não se contradiz, no sentido em que se eles fazem parte do maquinismo cósmico, criado por Deus, não intervém para o alterar para não se contradizer.

Tudo está nas mãos de Deus, costumamos dizer. Assim entendemos que nós podemos melhorar e aperfeiçoar a nossa vida, mas que há coisas que nos ultrapassam e não dependem de nós. Mesmo então estamos nas mãos de Deus.

E quando a terra tremeu no Haiti, Deus estava lá; não para derrubar as casas, mas para alentar o sofrimento dos haitianos.

Por: Frei Manuel Rito Dias

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