Projeto de esporte contra as drogas

Honduras: Esporte mantém menores longe de crime e drogas

Projeto ‘Futebol para a Vida’ oferece um futuro melhor para 42.000 crianças hondurenhas.


       Em seus 10 anos de existência, o projeto “Futebol para a Vida” tirou 42.000 crianças e adolescentes das violentas ruas hondurenhas. (René Novoa para Infosurhoy.com)
Em seus 10 anos de existência, o projeto “Futebol para a Vida” tirou 42.000 crianças e adolescentes das violentas ruas hondurenhas. (René Novoa para Infosurhoy.com)
TEGUCIGALPA, Honduras – Héctor Ramón Zelaya sabe que um gol pode mudar uma vida.
Afinal, ele marcou o primeiro gol de Honduras em Copas do Mundo no empate em 1x1 contra a anfitriã Espanha, em 1982.
“Agora, marco um gol como aquele todo sábado, quando as crianças jogam nas ligas do ‘Futebol para a Vida’”, orgulha-se o ex-jogador de 53 anos, também conhecido como “Peito de Águia”.
Em 2002, ele fundou o “Futebol para a Vida”, uma liga de futebol juvenil que busca manter crianças de famílias de baixa renda longe de drogas e gangues.
“Não pretendemos ser um celeiro de jogadores de futebol”, explica Zelaya. “A bola é um meio para resgatar os jovens das gangues e evitar que caiam nas garras das drogas.”
De origem humilde, “Peito de Águia” se identifica com as crianças que participam da liga de futebol.
“Sou de Trinidad, Santa Bárbara, no oeste do país, a 220 km da capital. É uma comunidade pobre, por isso entendo como essas crianças se sentem”, garante. “Na verdade, quando pequeno, eu jogava descalço e só aos 14 anos calcei meu primeiro par de chuteiras.”
O projeto conta com o apoio da Prefeitura do Distrito Central de Tegucigalpa (PMDC), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá e da empresa aérea American Airlines.

       Héctor Ramón Zelaya, ex-jogador da seleção hondurenha de futebol e fundador do projeto “Futebol para a Vida”: “Marcar um gol na Copa do Mundo é uma lembrança que dura para a vida toda. Mas agora comemoro um gol como aquele todo sábado, marcado pelas crianças de Honduras.” (René Novoa para Infosurhoy.com)
Héctor Ramón Zelaya, ex-jogador da seleção hondurenha de futebol e fundador do projeto “Futebol para a Vida”: “Marcar um gol na Copa do Mundo é uma lembrança que dura para a vida toda. Mas agora comemoro um gol como aquele todo sábado, marcado pelas crianças de Honduras.” (René Novoa para Infosurhoy.com)
Atualmente, 15.000 crianças e adolescentes em risco social integram 1.300 equipes, distribuídas em 162 bairros, colônias e aldeias da área metropolitana de Tegucigalpa. Os jogadores recebem uniformes, bolas, troféus e assistência odontológica gratuitos, além de ouvir palestras motivacionais e educacionais.
Em seus 10 anos de existência, a organização já beneficiou 42.000 jovens, segundo seus próprios cálculos.
“Os requisitos indispensáveis para ingressar em um clube são frequentar a escola e tirar boas notas”, ressalta Zelaya.
A liga realiza torneios para diferentes faixas etárias, que vão de 8 a 18 anos para meninos e 8 a 21 para meninas.
Antes de cada partida, os adultos conversam com os jogadores sobre os perigos do consumo de drogas, o que fazer se forem abusados e higiene dental, entre outros tópicos, explica Zelaya. Treinadores, jogadores e ex-jogadores visitam as ligas para compartilhar suas experiências com as crianças.
Recentemente, o ex-jogador reuniu a seleção que jogou na Copa do Mundo de 1982 para a inauguração de um novo campo de futebol do projeto em La Travesía, um bairro do sul de Tegucigalpa.
Violência diminui
Heber Ponce, coordenador da liga na aldeia de Los Pinos, 15 km a leste da capital, é um dos 1.000 voluntários da liga.

       Heber Ponce é o coordenador da liga na aldeia de Los Pinos. Ele se envolveu com o projeto “Futebol para a Vida” “para manter os meninos longe de gangues e dar uma oportunidade a outros que queriam sair [delas].” (René Novoa para Infosurhoy.com)
Heber Ponce é o coordenador da liga na aldeia de Los Pinos. Ele se envolveu com o projeto “Futebol para a Vida” “para manter os meninos longe de gangues e dar uma oportunidade a outros que queriam sair [delas].” (René Novoa para Infosurhoy.com)
Los Pinos foi fundado após o furacão Gilberto, que atingiu Honduras em 1987 e forçou famílias que moravam em comunidades afetadas pelos deslizamentos de terra a se mudarem para o assentamento. O local hoje abriga cerca de 10.000 pessoas que sobrevivem com menos de um dólar (R$ 1,84) por dia, segundo o Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIPD).
“Como somos uma comunidade de baixa renda, o crime é constante”, afirma o coordenador, que atua no “Futebol para a Vida” há 9 anos. “Mas, com o projeto, reduzimos em 40% os índices de violência. Quando soube do projeto, quis trazê-lo a Los Pinos para manter os meninos longe de gangues e dar uma oportunidade a outros que queriam sair [delas].”
As igrejas La Roca e Centro Bíblico, em parceria com a “Asociación Compartir”, uma ONG que atua no resgate de crianças de rua, colaboram com Ponce dando palestras motivacionais aos participantes do “Futebol para a Vida”.
Gols pela vida
A liga de Los Pinos tem 34 equipes masculinas e 6 femininas que jogam em terrenos baldios.
Não há muros ou cercas e “alguns carros quase atropelaram nossas crianças”, conta Ponce. “Héctor Zelaya fornece uniformes aos times e uma bola, mas precisamos de mais bolas, mais equipamentos atléticos, mais manutenção para as instalações e mais voluntários.”
Ponce recolhe os uniformes de seus jogadores depois de cada partida e os guarda em um saco plástico para que as crianças não os percam, pois não há camisetas extras.
Mas, apesar da falta de recursos, os participantes estão altamente motivados – basta perguntar a Wilson Oseguera.
Oseguera, de 18 anos, entrou para o clube “Juvenil Cristão” há 6 anos porque sua vida seguia um rumo destrutivo depois que o consumo de drogas levou à sua prisão por perturbação da ordem.

       Wilson Oseguera, 18 anos, entrou para o clube “Juvenil Cristão” há 6 anos porque sua vida seguia um rumo destrutivo depois que o consumo de drogas levou à sua prisão por perturbação da ordem. “Aos 13 anos, recebi um chamado de Deus”, conta. “Desde então, minha vida tem sido diferente.” (René Novoa para Infosurhoy.com)
Wilson Oseguera, 18 anos, entrou para o clube “Juvenil Cristão” há 6 anos porque sua vida seguia um rumo destrutivo depois que o consumo de drogas levou à sua prisão por perturbação da ordem. “Aos 13 anos, recebi um chamado de Deus”, conta. “Desde então, minha vida tem sido diferente.” (René Novoa para Infosurhoy.com)
“Aos 13 anos, recebi um chamado de Deus”, conta. “Desde então, minha vida tem sido diferente.”
A família do jovem está orgulhosa de como sua vida mudou graças ao “Futebol para a Vida”.
“Minha mãe está feliz que estou aqui”, diz Oseguera, que encoraja jovens a entrar para a liga. “Deus tem um propósito para mim, que é o de ajudar os demais a sair das gangues. Não creio que vou jogar futebol profissionalmente, mas terei um futuro digno.”
Necessidade de instalações esportivas
Zelaya está tentando expandir o alcance do projeto para incluir jogadores de outras comunidades em risco social.
Ele fez uma parceria com o governo espanhol e com o FC Barcelona, que é liderado pelo craque argentino Lionel Messi, para expandir a liga para todas as 74 comunidades indígenas de Honduras.
“Em um futuro próximo, chegaremos a todo o país”, diz “Peito de Águia”.
Zelaya acrescenta que 90% das crianças que entram para um time permanecem no projeto, “mas alguns saem por negligência dos pais ou porque algumas ligas acabam quando os proprietários dos campos vendem os terrenos para a construção de gramados particulares.”
Por essa razão, o ex-jogador pediu ao Governo Federal e à Comissão Nacional Pró-Instalações Desportivas (CONAPID) que disponibilizem espaços próprios para a liga.
“O projeto é bonito”, diz Zelaya. “Estamos em áreas de baixa renda, onde o povo nos saúda com alegria e nos apoia com o pouco que podem. Minha maior recompensa é ver a alegria das crianças quando vestem os uniformes. É algo incomparável.”

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